O Fronteiras do Internacional propõe-se como um grupo interdisciplinar de leitura e redação que pretende explorar a teorização contemporânea sobre o ‘internacional’ no âmbito dos horizontes conceituais de Direito Internacional (DI) e Relações Internacionais (RI). A ideia é mapear a atual literatura jurídico-política sobre o ‘internacional’ entre e através de disciplinas, localidades, e academias, e explorar o que se encontra além de tais fronteiras a partir de uma perspectiva genuinamente global, para compartilhar e discutir projetos acadêmicos nestas bases, e para se divertir um pouco (fazendo tais atividades).

A motivação para esta iniciativa advém de duas observações acerca do atual estado de pensamento nas duas disciplinas: primeiramente – e em sintonia, talvez, com uma tendência intelectual geral do mundo neste momento – a teorização contemporânea de DI e RI é marcada por intensa autorreflexão e diferenciação temática, ao invés de grandes teorias, como uma resposta à incerteza epistêmica e à fragmentação disciplinar. Como uma consequência, suas respectivas fronteiras disciplinares interiorizaram-se em reflexões críticas sobre conceitos fundamentais e identidades disciplinares.

Em segundo lugar, as tendências institucionais (institutional path dependencies) prevalecentes e o provincianismo cognitivo ainda representam um obstáculo a uma visão genuinamente global do ‘internacional’ e (portanto) a uma visão em que perspectivas do e a partir do sul global e do norte global entrem em diálogo genuíno. Trata-se, portanto, de um momento em que a concepção ultrapassada entre as fronteiras disciplinares – ainda incorporadas, apesar de todo reenquadramento construtivista e pós-estruturalista, na antiga dicotomia entre legalismo formalista versus funcionalismo realista – deve ser deixada para trás, em favor de um novo engajamento mútuo que faça uso e se beneficie da diversidade ontológica, epistemológica, metodológica e temática de cada contexto disciplinar.

Em particular, é por meio de perspectivas inerentemente transdisciplinares, tais como a desconstrução, o pós-fundacionalismo, o novo historicismo, assim como o novo materialismo, o feminismo, a teoria queer, ou as perspectivas pós-/de-coloniais, que este engajamento pode ser concretizado e novas fronteiras comuns podem ser exploradas.

Uma base inicial para um mapeamento mais detalhado de tais fronteiras deve ser o conjunto de amplas tendências temáticas, epistemológicas e metodológicas que caracterizam a teorização contemporânea entre as duas disciplinas. Assim, em termos bastante gerais, recentes trabalhos enfocaram a delimitação (disciplinar) e a (re)identificação do ‘internacional’ vis-à-vis significantes alternativos, tais como o ‘global’, o ‘transnacional’, ou o ‘local’, bem como desenvolveram leituras desconstrucionistas da arqueologia do ‘internacional’ em conceitos como ‘mundo’, ‘humanidade’, ‘natureza’, ‘história’, ‘progresso’, ou ‘desenvolvimento’, e questionaram a relação fundamental entre o ‘internacional’ e as várias narrativas da modernidade. Paralelamente, conceitos centrais, tais como ‘soberania’, ‘o estado’, ‘política’, e, inclusive, ‘fronteiras’, ‘bordas’, ‘divisas’ e/ou ‘limites’, têm sido criticamente reexaminados.

O Laboratório de Leitura e Redação iniciará com encontros mensais, durante os quais o atual estado da arte das literaturas relevantes será mapeado, apresentado e discutido, e projetos de escrita serão explorados e, em estágios futuros, regularmente lidos e revisados. Outros tipos de atividades serão desenvolvidos ao longo dos trabalhos do Laboratório, tais como seminários e publicações (impressas e virtuais), assim como as atividades (de solicitação de financiamento) que lhes sirvam de base. Ademais, uma rede ‘internacional’ de acadêmicos correspondentes também será construída desde uma fase inicial.

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